O desemprego que há dois anos aflige o país, impulsionado pela crise da economia brasileira, sacrifica duplamente as mulheres. Além da escassez de vagas numa economia que enfrenta dificuldades para sair do estado de paralisia, a discriminação velada nas empresas complica a situação das trabalhadoras em busca de uma oportunidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Minas Gerais a taxa de desemprego feminino alcançou no primeiro trimestre o índice recorde de 15,9% da população sem emprego e em busca de trabalho.
Do total de 1,5 milhão de desempregados no estado, 777 mil são mulheres, representando 51,8% do total. Na média, a proporção de mineiras desocupadas ficou quatro pontos acima da taxa de 11,9% medida para os homens pelo IBGE. A diferença da taxa por gênero não é um fenômeno novo, mas vem resistindo. O nível de desocupação das mulheres em Minas de janeiro a março último também superou a média nacional, de 15,8%.
Segundo o IBGE, a situação pior da mulher na disputa por um lugar no mercado de trabalho é percebida desde o início das pesquisas trimensais feitas pela instituição, no início de 2012. No primeiro levantamento, a taxa para homens desempregados era de 6,2%, enquanto das mulheres atingia 10,3%. Com o passar dos anos, a diferença se reduziu timidamente, mas no último levantamento voltou a crescer.
Para o coordenador de Trabalho e Renda do IBGE, Cimar Azeredo, a diferença entre os gêneros tem se mantido desde o início, mas a situação para as trabalhadoras fica ainda mais complicada durante os períodos de crise no mercado de trabalho. “As tradicionais mazelas com relação à mulher no mercado permanecem. É uma situação cultural do país. A mulher muitas vezes sofre preconceito na disputa por vagas, uma vez que algumas empresas temem que elas possam engravidar, ou até fazer dupla jornada em casa”, explica Azeredo.
Em geral, as mulheres ainda são vistas nas empresas com o temor de que deem mais atenção à família do que ao trabalho e apresentem baixa produtividade, em razão da jornada dobrada, no emprego e em casa. Há também o medo de a gravidez afastá-las do compromisso com as metas de desempenho na função.
Cimar Azeredo ressalta que em momentos de crise, em que muitas famílias precisam buscar outras fontes de renda, se tornou comum que as mulheres saiam mais em busca de emprego atrás de uma renda para a família. “Muitas são rejeitadas pelas empresas por questões culturais que permanecem. A falta de experiência também é um problema para muitas mulheres que não conseguem oportunidade de emprego”, avalia Azeredo.
Longa procura
Prestes a concluir o ensino médio, Ana Carolina da Silva Campos, de 17 anos, procura seu primeiro emprego desde agosto do ano passado para ajudar na renda familiar. Na semana passada, a estudante voltou à fila da Unidade de Atendimento Integrado (UAI), o antigo PSIU, na Praça Sete, no Centro de Belo Horizonte, em busca de uma vaga.
“Tenho procurado as vagas de auxiliar administrativo, mas já estou aceitando qualquer vaga que eu possa conciliar com os estudos. A ideia é ganhar meu próprio dinheiro, porque as coisas estão muito difíceis para todo mundo”, conta Ana Carolina. Ela já participou de algumas entrevistas, mas até agora não foi chamada em nenhum dos processos de seleção.
A doméstica Paloma Cristine, de 34, também procura uma recolocação no mercado de trabalho desde o ano passado. “Sempre trabalhei informalmente, mas nos últimos meses os trabalhos diminuíram e passei a procurar um trabalho fixo. A situação está bem complicada, porque muitas vezes são várias pessoas atrás de uma mesma vaga e as contratações não acontecem”, conta Paloma, que conseguiu marcar duas entrevistas para esta semana.
Trabalhadoras recebem 72% dos salário dos homens
O levantamento do IBGE mostra ainda que a diferença entre os gêneros se mantém entre as mulheres e homens empregados, uma vez que em média, as trabalhadoras recebem 72% do salário dos homens. “A diferença salarial também se mantém. O que demonstra a importância de políticas para proteger as mulheres no mercado de trabalho”, diz o coordenador do IBGE.
De acordo com Cimar Azeredo, no último levantamento do instituto a taxa de desempregados foi recorde tanto para mulheres quanto para homens, e que não é possível fazer uma estimativa sobre quando o desemprego vai cair no país.
A renda média habitual real, ou seja, descontada a inflação, foi estimada pelo instituto em R$ 1.798 no estado durante o primeiro trimestre do ano. A cifra se refere a todos os trabalhos desempenhados pelas pessoas ocupadas.
Não houve variação estatística relevante do rendimento apurado pelo IBGE na comparação com o trimestre anterior e o mesmo período de 2016. No Brasil, o rendimento médio do trabalho ficou estável em R$ 2.110. A massa de rendimentos reais habitualmente recebidos em Minas, que consiste na soma dos vencimentos de todos os trabalhos das pessoas ocupadas no estado, alcançou R$ 16,7 bilhões no 1º trimestre, apresentando queda de 3,7% em relação ao trimestre anterior.
Quando o desemprego é analisado por segmento da atividade econômica em que os desocupados trabalharam, houve queda de 10% do nível da ocupação na indústria da construção mineira no primeiro trimestre, ante o quarto trimestre de 2016. Caiu, da mesma forma, o nível do emprego, em 8%, no grupo formado pelos trabalhos na administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais.