Você muitas vezes pensa que não pode se afastar do escritório porque ninguém conseguiria fazer seu trabalho em seu lugar? Ou muda seus planos pessoais para trabalhar até tarde da noite ou no final de semana? Sente-se culpado por parar de trabalhar na hora certa?
Se uma destas situações lhe parece familiar, você pode fazer parte de um número crescente de “trabalhadores mártires” que estão mudando drasticamente a cultura corporativa e levando a um aumento do número de casos de estresse e esgotamento.
O cientista de dados americano Binal Patel, de 25 anos, admite ser um desses mártires e que sofre de esgotamento por sacrificar seu tempo livre em nome de sua carreira.
O recém-formado diz que os problemas começaram há dois anos, quando mergulhou de cabeça em um emprego em uma pequena empresa de análise de dados do setor de saúde.
Havia só 12 funcionários naquele momento, e Patel se lembra de ter estabelecido metas ambiciosas e que trabalhava “12 horas por dia, se dedicando 200%” para alcançá-las.
A princípio, o reconhecimento deste esforço foi positivo – e viciante -, mas ele logo percebeu que o enorme volume de trabalho seria insustentável.
“A empresa passa a esperar que você trabalhe sempre com a mesma intensidade, porque já fez isso antes, e você mesmo espera se manter nesse mesmo nível, mas trabalhar tão duro o tempo todo simplesmente não é possível.”
Patel percebeu que sua produtividade e eficiência caía conforme trabalhava cada vez mais. Ele diz que isso teve um custo emocional, “porque você espera mais de si mesmo”.
Esgotamento
Ele não está sozinho. Segundo um novo estudo do The Workforce Institute, um centro de estudos sobre desempenho no trabalho dos Estados Unidos, 81% dos trabalhadores assalariados americanos trabalham além do horário – e 29% fazem hora extra três ou mais vezes por semana.
Um outro estudo, feito pela Projeto: Tempo Livre, organização americana que busca mudar esse tipo de comportamento, diz que jovens com idades entre 18 a 35 anos, conhecidos como millenials, são mais bem mais propensos a se tornarem mártires do trabalho do que seus colegas mais velhos: 43% deles têm esse perfil, enquanto a média é de 29% entre todos os trabalhadores.
Especialistas alertam que passar mais tempo no escritório não significa que será feito um trabalho melhor e que os patrões precisam estabelecer metas claras para prevenir que seus funcionários fiquem esgotados.
Caso contrário, as consequências de uma força de trabalho extremamente estressada serão cada vez mais pronunciadas – principalmente à medida que funcionários mais jovens forem assumindo cargos de liderança e exigindo de seus subordinados o mesmo nível de dedicação.
“O que será do equilíbrio entre vida profissional e pessoal no futuro se essa é a mentalidade que estamos incentivando?”, diz Katie Denis, pesquisadora-chefe da Projeto: Tempo Livre. Ela advoga por uma mudança drástica de atitude entre os mais jovens, temendo “problemas mais graves em breve”.
Estudos realizados pelo Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional ligam o excesso de trabalho a vários problemas de saúde causados pelo estresse, como depressão, problemas de sono e consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
Ao mesmo tempo, um novo estudo com americanos, australianos e europeus identificou que trabalhar 55 horas ou mais por semana aumenta em 33% o risco de uma pessoa ter um acidente vascular cerebral e em 13% as chances de ter problemas cardíacos em comparação com quem cumpre uma jornada padrão de 40 horas semanais.
Medo e incerteza
A atual tendência de profissionais de 18 a 35 anos de trabalhar excessivamente está relacionada, ao mesmo tempo, a necessidades saudáveis do ego (como buscar a sensação de estar realizando coisas), e a níveis nocivos de ansiedade.
(Fonte: UOL)